A vossa escolha

Não vou colocar aqui um poema de Fernando Pessoa Ortónimo.
Vou antes colocar o Opiário de Álvaro de Campos (heterónimo de Pessoa)

Opiário

É antes do ópio que minh'alma é doente.

Sentir a vida convalesce e estiola

E eu vou buscar ao ópio que consola

Um Oriente ao oriente do Oriente.

Esta vida de bordo há-de matar-me.

São dias só de febre na cabeça

E, por mais que procure até que adoeça,

Já não encontro a mola pra adaptar-me.

(....)

Eu acho que não vale a pena ter

Ido ao Oriente e visto a Índia e a China

A terra é semelhante e pequenina

E há só uma maneira de viver.

Por isso eu tomo o ópio. É um remédio.

Sou um convalescente do Momento.

Moro no rés-do-chão do pensamento

E ver passar a Vida faz-me tédio.

(...)

Caio no ópio por força. Lá querer

Que eu leve a limpo uma vida destas

Não se pode exigir. Almas honestas

Com horas pra dormir e pra comer,

Que um raio as parta! E isto afinal é inveja.

Porque estes nervos são a minha morte.

Não haver um navio que me transporte

Para onde eu nada queira que o não veja!

(...)

Deixe-me estar aqui, nesta cadeira,

Até virem meter-me no caixão.

Nasci pra mandarim de condição.

Mas falta-me o sossego, o chá e a esteira.

Ah que bom era ir daqui de caída

Prá cova por um alçapão de estouro!

A vida sabe-me a tabaco louro.

Nunca fiz mais do que fumar a vida.

E afinal o que quero é fé, é calma,

E não ter estas sensações confusas.

Deus que acabe com isto! Que abra as eclusas-

E basta de comédias na minh'alma!

O poema não está todo aqui pois é enorme!

Para quem gostou destes excertos e ainda não conhecia, aconcelho a procurar o resto.

Kisses