Shadow Mundi: Beatriz

quinta-feira, setembro 16, 2004

Beatriz

Em terrenos de cinza e cal e sem beleza,
Como eu chorasse um dia à triste natureza,
E tivesse a cabeça a errar de incerto mal,
Lentamente aguçava em meu peito um punhal.
Ao meio-dia eu vi tombar-me na cabeça
Nuvem de tempestade a mais funérea e espessa,
Que trazia um tropel de demônios viciosos
Recordando os anões irados e curiosos.
Puseram-se depois frios a me fitar
Pedestres que se põem algum louco a admirar.
Via-os murmurar e rir cada vez mais
Os olhos a piscar e trocando sinais:

- "Olhemos devagar esta criatura
Sombra que quer de Hamleto imitar a postura,
Os cabelos ao vento, o olhar de indecisão,
Faz sempre pena ver esse alegre histrião,
Esta figura de patife e de indigente,
E que de seu papel se incumbe sabiamente
Que sabe interessar no seu canto de dores
Águias e ribeirões, grilos, sombras e flores,
E mesmo a mim, autor desta velha canção,
Recitando a rugir seu público pregão!
"Poderia(Ah! Este orgulho é mais alto que os sonhos,
A alta nuvem domina e o grito dos demônios)
Desviar tão simplesmente a lava fronte serena,
Se eu não notasse enfim em meio à turba obscena,
Crime que não moveu no firmamento o sol,
O meu profundo amor, o de olhar de arrebol
Com eles a se rir de minha mágoa funda,
Dando-lhes o prazer de uma carícia imunda.

Baudelaire


Um poema que havia prometido.
Espero que gostem.
E obrigado a todos!!!
;)
Kisses

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